ATA DA QÜINQUAGÉSIMA SEXTA SESSÃO SOLENE DA QUARTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM 09-11-2000.

 

 


Aos nove dias do mês de novembro do ano dois mil reuniu-se, no Memorial do Rio Grande do Sul, a Câmara Municipal de Porto Alegre, nos termos do artigo 7º, § 1º, do Regimento. Às dezoito horas e trinta minutos, constatada a existência de quórum, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada à entrega do Prêmio Literário Érico Veríssimo ao Senhor Armindo Trevisan, nos termos do Projeto de Resolução nº 062/00 (Processo nº 2557/00), de autoria da Mesa Diretora. Compuseram a MESA: o Vereador João Motta, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; o Senhor Charles Kiefer, Secretário Municipal da Cultura; o Senhor Paulo Flávio Ledur, Presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro; o Senhor Roque Jacob, Presidente do Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais da Cultura; o Senhor Armindo Trevisan, Homenageado; o Vereador Cláudio Sebenelo, na ocasião, Secretário “ad hoc”. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem a execução do Hino Nacional e, em continuidade, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador João Carlos Nedel, em nome da Bancada do PPB, exaltou o Homenageado como um dos mais insignes nomes da literatura contemporânea. Também, ressaltando o valor que as palavras têm para o homem, no plano intelectual e espiritual, analisou a importância da obra de Armindo Trevisan no contexto da cultura gaúcha e brasileira e lembrou a universalidade de sua poesia, resultado de um longo trabalho cultural. O Vereador Cláudio Sebenelo, em nome da Bancada do PSDB, externou sua emoção e salientou o significado da solenidade promovida no dia de hoje junto à Feira do Livro de Porto Alegre, destacando a associação entre a poesia e a estética presentes na obra do Homenageado. Ainda, recordou as múltiplas atividades desempenhadas no campo das Letras por Armindo Trevisan, lendo passagens de suas obras e elogiando a sensibilidade da produção literária de Sua Senhoria. O Vereador Reginaldo Pujol, em nome da Bancada do PFL, comentou a tradição deste Legislativo em buscar a integração com a comunidade, referindo-se à aprovação, de forma unânime, da iniciativa da Mesa Diretora em outorgar ao Senhor Armindo Trevisan o Prêmio Literário Érico Veríssimo, pelo conjunto de sua obra. Nesse sentido, apontou a sensibilidade poética do Homenageado como fator importante para o engrandecimento da Literatura em nosso Estado. Na ocasião, o Vereador Cláudio Sebenelo assumiu a presidência dos trabalhos e, após, foi dada continuidade às manifestações dos Senhores Vereadores. O Vereador João Motta, em nome da Mesa Diretora e das Bancadas do PT, PTB, PDT, PSB, PMDB e PPS, registrou a indicação unânime do nome de Armindo Trevisan para receber o Prêmio Érico Veríssimo deste ano, feita tanto pela Organização da Feira do Livro quanto pela Mesa Diretora da Câmara Municipal de Porto Alegre. Também, referiu-se a Sua Senhoria como um dos maiores escritores do Rio Grande do Sul, pelo reconhecimento nacional e internacional alcançado através de seu trabalho. Em prosseguimento, o Vereador João Motta assumiu a presidência dos trabalhos e procedeu à entrega do Prêmio Literário Érico Veríssimo ao Senhor Armindo Trevisan, concedendo a palavra ao Homenageado, que agradeceu o Prêmio recebido. A seguir, o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé, ouvirem a execução do Hino Rio-Grandense, agradeceu a presença de todos e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos às dezenove horas e dezenove minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores João Motta e Cláudio Sebenelo e secretariados pelo Vereador Cláudio Sebenelo, como Secretário “ad hoc”. Do que eu, Cláudio Sebenelo, Secretário “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.

 

 


O SR. PRESIDENTE (João Motta): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene, destinada à entrega do Prêmio Literário Érico Veríssimo ao Sr. Armindo Trevisan. Convidamos para compor a Mesa o homenageado, Sr. Armindo Trevisan; o Secretário Municipal da Cultura, Sr. Charles Kiefer; o Presidente do Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais da Cultura, Sr. Roque Jacob; o Presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro, Sr. Paulo Flávio Ledur.

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional.

 

(Executa-se o Hino Nacional.)

 

O Ver. João Carlos Nedel está com a palavra e falará em nome da Bancada do PPB.

 

O SR. JOÃO CARLOS NEDEL: Sr. Presidente João Motta. Nosso homenageado Sr. Armindo Trevisan; Secretário Municipal de Cultura Sr. Charles Kiefer; Presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro Sr. Paulo Flávio Ledur; Presidente do Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais de Cultura Sr. Roque Jacob, familiares do homenageado, Srs. Vereadores, senhoras e senhores amigos do homenageado.

Difícil e honroso é o encargo de saudar Armindo Trevisan, quando aqui recebe o Prêmio Literário Erico Verissimo, por indicação do ilustre e culto Vereador João Motta, digno Presidente da nossa Câmara de Vereadores de Porto Alegre. Difícil, especialmente depois de conhecer as opiniões críticas de alguns dos maiores nomes da literatura contemporânea sobre a obra de Trevisan. Todas profundas e enaltecedoras, pouco ou nada deixando que eu possa acrescentar, especialmente com a palidez de verbo e de estilo que certamente não fará justiça ao nosso homenageado. Todavia, não posso furtar-me à honra que me concede o Partido Progressista Brasileiro, o PPB, cuja Bancada tenho a honra e a satisfação de integrar juntamente com os dignos Vereadores João Dib e Pedro Américo Leal.

“Nossas palavras, nossas confessoras, mais antigas do que nós. Do fundo do tempo, elas nos ensinaram o nome da luz, o nome do amor, o nome da vida. Com elas, formamos em nós os sentimentos e pensamentos. Não se repetem! Embora o som as assemelhe, são diferentes. Têm outro eco, outro reflexo, cada vez. As bem velhas tornam-se as tão novas, e são as que ouvimos melhor. Queridas palavras.” Este pensamento de Álvaro Moreira dá a dimensão perfeita do valor das palavras para o homem e seu existir. E nos remete à imediata reflexão sobre a nobreza de seu emprego para tornar possível a convivência e o crescimento das pessoas, como indivíduos e como coletividade, no plano das idéias e no plano da realidade sensível. Dentre todas as artes, a do uso da palavra, em especial a escrita, é, talvez, a que melhor cumpre a função superior de satisfazer a sensibilidade estética do ser humano, encaminhando seu espírito para a beleza que há na trilha da perfeição.

Armindo Trevisan, nosso homenageado nesta oportunidade, insigne homem de letras, afirma, em seu livro Como Apreciar a Arte, que o gozo estético e o gozo artístico fazem parte dos meios pelos quais a pessoa obtém uma relativa plenitude existencial. Eles têm a ver, em última análise, com a felicidade. Modesta e despretensiosamente, satisfaço-me grandemente em concordar ponto por ponto com o pensamento de Armindo Trevisan, pois entendo que a arte fala necessariamente ao espírito, visando ao aperfeiçoamento do homem e de sua vida, além do físico, no plano intelectual e especialmente no plano espiritual, encaminhando assim ao grande objetivo do ser humano, que é ser feliz. E a obra de Armindo Trevisan satisfaz cada um dos propósitos da arte. Sua poesia universal, de conteúdo, é reflexo de uma longa caminhada intelectual, ecoando ao grito da própria experiência, espelhando o âmago do seu sentir. Nela a palavra é alimentada de amor e o tempo, sem acrobacias, é permanente e intocável cantiga, que se torna perceptível pelo verbo sem a contaminação da pressa. Toda ela é feita de canções expressas em palavras, mas cuja música pode ser imaginada e percebida pelo sensível estético dos que levam no coração o dom e a graça do amor ao belo. Integrado ao mundo com sua forma visível de rotina, Armindo Trevisan faz da poesia esse encanto sempre renovado pelo uso magistral e único das tintas, letras e palavras.

É muito bom falar de homens como Trevisan, pois nos excita a imaginação e facilita a expressão. Melhor que tudo, porém, é poder participar ativamente desta homenagem que nos propõe o Ver. João Motta, e que o povo de Porto Alegre, aqui representado pelos Srs. Vereadores que integram esta Casa, faz a entrega ao Sr. Professor, Doutor, excelso homem de letras Armindo Trevisan do Prêmio que leva o nome do iluminado Érico Verissimo, que de onde estiver com certeza estará fazendo coro aos aplausos que agora o senhor recebe com toda a justiça.

Que Deus lhe renove a cada dia de sua existência, que, auguro, seja longa, a inspiração para a poesia e toda a demais produção cultural. A cultura gaúcha e brasileira se valorizará sempre com a sua obra. Parabéns. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Motta): O Ver. Cláudio Sebenelo está com a palavra e falará em nome da Bancada do PSDB.

 

O SR. CLÁUDIO SEBENELO: (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Caro Professor Armindo Trevisan, peço desculpas pelo meu indisfarçável arrivismo, e minha desproporcional pequenez perante este gigantesco compromisso. Nesta tarde tão especial, na Feira do Livro de 2000, saudar, pelo PSDB, um ser humano tão eminente, tão importante, excede, em muito, minhas limitadas possibilidade.

Porém, esta tarefa me foi legada por Antonio Hohlfeldt, que no momento encontra-se em outra solenidade, lutando contra a superposição de horários e brandindo, quase quixotesco, a espada de sua versatilidade contra os moinhos de uma agenda insuportável. Mas, por Lya Luft, vale o risco.

É que hoje, oficialmente, definitivamente, Armindo Trevisan é adotado por esta linda aldeia de um milhão e meio de habitantes, através da Mesa Diretora de sua Câmara Municipal, como uma velha mãe que reencontra o filho amado.

E este momento, de tamanha significação, se é para mim uma difícil empresa, só o é também facilitada pela tua arte, pelos teus poemas e pela emoção deste encontro em plena Feira do Livro.

“Dorme minha mãe, em meus braços / como a lua na clareira de um bosque. / Ali estou à tua espera / Desde que teu ventre se aligeirou / com meu peso.”

Nestes versos estão coalescidas tuas intenções metafísicas de poeta com o ponderável da estética. E agregaria, se a compreensão de todos permitir, o neologismo poesteta, para simplificar, de vez, as profundezas e a complexidade desta integração milagrosa, em uma só pessoa.

Um poeta é, por excelência, por necessidade, por apetite voraz, um esteta. Um esteta é, por excelência, por necessidade, por apetite voraz, um poeta.

Entrelinha e inconsciente, os dois são delicados vulcões em erupção. Lavas glaciais incandescentes como em A Dança do Fogo.

“Por que será que penso nos teus lábios / quando avisto, em quintais, limões maduros? / Serão eles dobrados sobre os muros, / Livreiros que esquadrinham alfarrábios? / Ou hão de parecer polidos cabos / Rumorejando sobre os ares puros? / Eu sempre penso nos limões: dourados, / Guardam-se incorruptíveis e fechados.”

E quando penso que ao poesteta podemos acrescentar filósofo e historiador, ensaísta e, permitam-me, livreiro, devemos esperar a imensa ajuda da denúncia na arte, do entendimento do emaranhado, da Babel que transformamos este antigo mundo grande, num mundo pequeno, cheio e incabível. Livro é livre. Livro é liberdade, é denúncia libertária.

E denunciar ao mundo, nós que preamos índios, nós que vergonhosamente, etnocentricamente, os conduzimos ao genocídio, nós que deificamos seus carrascos, com episódios que mancham a história pátria, é encontrar o lenitivo para este grande complexo de culpa, algoz psicossocial de nossos arquétipos brasileiros, como no ensaio que publicaste em Legado das Missões, de Luiz Coronel: “em que se destaca a sensibilidade artística dos índios guaranis, pelo pendor musical e o talento intuitivo que eram capazes de exibir em suas próprias esculturas. A arte das missões hispano-guaraníticas, a estética dos sete povos pertence ao patrimônio histórico nacional e latino-americano, classificado como barroco missioneiro.”

E nós, europeus, brancos, civilizados, em 1767 extinguimos o ciclo missioneiro, expulsando os jesuítas da região, em sanguinária disputa pelo solo.

Sabe-se agora que estás organizando e publicando a Iconografia Missioneira Jesuítica, misturando barroco, guarani e espanhol em mais de quatrocentas imagens que vingaram através do tempo.

Possuídos de indizível orgulho, mas também para diminuir nossas penas, visitamos ávidos os demonstrativos desta tese no MARGS. Muito e principalmente através da História da Arte, podemos avaliar nosso desenvolvimento histórico. E purgar dívidas com os verdadeiros donos deste solo.

“Como apreciar a arte - Do saber ao sabor: uma síntese possível.”

Essa sua obra tem como finalidade familiarizar o leigo com os segredos da arte, provando que é possível desenvolver a própria sensibilidade. Mas arriscaria dizer que, diariamente, passo por uma obra-prima que testa minha emoção estética. Carlos Tenius expõe para toda a população de uma cidade (e a arte tem que ser popular, tem que ser democratizada, para muitos usufruírem uma obra de um grande artista) e seus visitantes, um Monumento aos Açorianos, na Perimetral, Loureiro da Silva. E a cada visita, a cada fim de tarde de longos namoros, desvendam-se alguns segredos da arte.

O primeiro é que a arte está no escultor, mas está também intrínseca e extrinsecamente de dentro para fora e de fora para dentro, em cada um dos espectadores. Está na doce liberdade de fantasiar. De sonhar exatamente como nossos ancestrais sonharam. Está nesse reencontro de feliz interação com o ferro, barco, gente, na gostosa sensação de ascender, céu, terra, água, aventura, odisséia da superação dos abismos infernais e de descoberta.

Maravilhosa descoberta que se faz em nossos microcosmos, como se estivéssemos na frente de um espelho de onde se criam aos borbotões, em uma segunda instância, sensibilidade e prazer. E, como não há ator sem platéia, como não há escultor sem, nem que seja, um discreto apreciador... É aí que se instala, através da sensibilidade, o diálogo com a arte.

E se arte e belo se confundem, a beleza deste fim de tarde é no mínimo artística, no mínimo estética, na quadratura dos livros, no florido dos jacarandás, no canto de estréia de um pequeno sabiá, recém saído das fraldas.

Também nossa Cidade tem a retidão de avenidas intermináveis, a tortuosidade dos becos, tem alma e tem técnica, tem estética e sentimento. O sentimento espontâneo de um povo magnífico, acolhedor, fidalgo. Uma certa beleza que o urbanismo dos arquitetos pode conferir, inserida entre esquinas, botecos e pôr-do-sol.

Mas especialmente a sua geografia, sedutora como o corpo de uma jovem musa, curvas, colinas salientes, reentrâncias.

E um ar indizível de felicidade, por ter nesta data adotado, de si própria, da própria mestiçagem de poesia e estética, numa só pessoa, na alegria da descoberta de Armindo Trevisan, poesteta, às vezes, um velho amigo de Porto Alegre, e esta rica, invejável e inesperada versatilidade, às vezes um menino perdido, vagando por suas ruas, Porto Alegre, na esperança de um novo caminho, de uma nova saída. Pela arte. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Motta): O Ver. Reginaldo Pujol está com a palavra, pela Bancada do PFL.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) A tradição do Legislativo de Porto Alegre é buscar sempre a integração dos seus atos com a comunidade, com a sociedade. No dia de hoje, esse fato se renova e se repete. Aqui estamos muito próximos do local onde se desenvolve a 46ª Feira do Livro de Porto Alegre, só porque e tão-somente o tempo não nos permitiu que estivéssemos lá no coração da Feira para realizarmos esta Sessão Solene, fora do recinto da Câmara Municipal, mas numa integração perfeita e adequada com a finalidade da sua realização: a entrega a Armindo Trevisan do Prêmio Literário Érico Verissimo que, seguramente, é uma prova absoluta da sensibilidade do legislador municipal, que, atendendo à proposição originária da Mesa Diretora da Câmara Municipal, muito bem conduzida pelo Presidente Ver. João Motta, de uma forma tranqüila, serena e unânime, acolheu a proposição e transformou-a na resolução que gera esse momento solene.

Pessoalmente, eu sou chamado a pequenas e breves reflexões. O que me vem à mente, muito mais tocado pelos pronunciamentos eruditos, inteligentes que já ouvi na tarde de hoje dos companheiros Vereadores João Carlos Nedel e notadamente do meu amigo, quase irmão, Cláudio Sebenelo.

Lembrei-me, caro Trevisan, dos meus tempos acadêmicos, tempos dos quais procuro relembrar com freqüência, num misto de saudade e de renovação. Lembrei-me de um nome que o Rio Grande conheceu e cujas posições muito marcaram a minha formação política, um homem pelo qual eu tenho uma verdadeira veneração: Carlos de Brito Velho, quando dizia com muita propriedade, numa expressão lapidada: que deve se dar ao seu o que cujo é. Nessa linha, vou um pouco adiante: sento-me nos bancos acadêmicos e lembro-me do saudoso Prof. Armando Câmara, quando prelecionava que o valor era a relação de conformidade do dinamismo do ser com os seus fins. E nesse contexto, eu chego até esta nossa Sessão Solene, acrescentando tão-somente aquele pensamento do grande filósofo espanhol Ortega y Gasset, quando nos ensinava que o homem é o ser e a sua circunstância. E nós estamos aqui nessa circunstância extremamente favorável à cultura do Rio Grande, com a edição da 46ª Feira do Livro, dando ao seu o que cujo é. Estabelecendo essa relação de conformidade dinâmica entre o ser e os seus fins. Estamos aqui entregando o Prêmio Literário Érico Verissimo a um poeta, a um homem cuja sensibilidade aguçada é por todos nós reconhecida e decantada, e ao fazê-lo cumprimos uma finalidade, dignificamos um prêmio, dignificando à altura do seu patrono. Entregando a Armindo Trevisan o Prêmio Literário Érico Verissimo, estamos fazendo com que esse Prêmio cresça, aumente no seu significado, porque se adequa à finalidade com que ele foi criado e registra, consigna, sublinha, enaltece um valor literário do Estado do Rio Grande do Sul que é esse poeta, esse homem de letras, Armindo Trevisan, que nós homenageamos na tarde de hoje.

Por isso, gostaria de somar o meu modesto pronunciamento à erudição dos meus companheiros que me antecederam e dizer que o Partido da Frente Liberal tem por objetivo sempre ressaltar o bom, o eficiente, o competente, quer saudar, no dia de hoje, o grande poeta do Rio Grande, o homem de sensibilidade, o homem que consegue ver, numa tarde como a nossa, em que a própria temperatura se modifica a todo instante e a toda hora, ora quente ora chuvosa, ele vê nessas mutações do mundo toda aquela filosofia, toda aquela arte que a sua poesia canta.

Meus cumprimentos Trevisan, Porto Alegre se engrandece ao te conferir pela Câmara Municipal esse merecido Prêmio Literário Érico Verissimo. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Motta): Solicito ao Ver. Cláudio Sebenelo que me substitua na Presidência para eu fazer uma rápida saudação ao homenageado.

 

O SR. PRESIDENTE (Cláudio Sebenelo): O Ver. João Motta está com a palavra, em nome da Mesa Diretora e das Bancadas do PT, PTB, PDT, PSB, PMDB e PPS.

 

O SR. JOÃO MOTTA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Aparentemente, pode ser um pouco estranho, prezado escritor, e essa estranheza sinto agora, enfim, alguém como eu que tive durante um longo tempo da minha vida uma formação e uma relação com o conhecimento e a teoria absolutamente ortodoxa, num largo e determinado espaço de tempo da minha vida, encontro-me numa Sessão como esta, homenageando alguém que nos revelaria dimensões da literatura. Mas, uma delas, o aspecto da literatura e a sua relação com a religião. Eu, que há muitos anos não bebia dessa literatura, por preconceito teórico e por uma formação ortodoxa, vejo-me, de alguns anos para cá, um pouco confuso com algumas mudanças que a vida nos impõe.

Quero te fazer uma confissão: quero confessar-te que és um dos responsáveis por isso, porque é impossível, essa relação e esse aprendizado com um pouco do conhecimento que nós, humanos, vamos aprendendo a cada momento das nossas vidas, sem mergulhar um pouco no que tu escreves ou naquilo que tu falas.

Portanto, para mim, pessoalmente, não só na condição de Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, é um motivo de muita honra prestar esta homenagem. Mas quero te dizer, também, que, pessoalmente, senti-me compelido a fazer, simbolicamente, esse elogio público a tua obra e a tudo aquilo que tu certamente continuarás produzindo para todos nós, brasileiros, gaúchos e em outros países que já, também, têm conhecimento daquilo que tu produzes.

Não vou cansá-los em reler a exposição de motivos que preparei para sustentar o Projeto apresentado na Câmara, porque não foi muito difícil. E essa dificuldade não se concretizou e se traduziu imediatamente em facilidade em dois momentos. Na primeira, quando nós fomos oferecer ao pessoal que organiza a Feira qual seria o escritor que nós poderíamos homenagear nesta Feira, através da Sessão tradicional que a Câmara realiza. Nós, meio que tentando induzir, sugerimos dois ou três nomes, dentre os quais, democraticamente, evidentemente, o teu. Mas qual não foi o nosso regozijo quando a resposta que veio daqui foi exatamente a resposta que nós pensávamos lá, que serias tu o homenageado.

A segunda dificuldade, aparente, que se traduziu imediatamente numa facilidade, foi quando apresentamos o Projeto ao Plenário. São trinta e dois Vereadores, de diferentes correntes, pensamentos e partidos; nós aprovamos por unanimidade. Então, nada mais justo que, durante a realização de mais esta Feira, a Câmara faça, institucionalmente e publicamente, o elogio a um dos maiores escritores do Rio Grande do Sul, a um dos escritores que tem uma trajetória, não só reconhecida nacionalmente, mas também internacionalmente pelo seu trabalho feito e realizado em outros países, como é o caso de Portugal, Espanha, México, Colômbia.- apenas para citar alguns.

Portanto, é com muita honra e com muito orgulho - eu que estou, praticamente, encerrando a minha passagem pela Câmara - que a minha última homenagem como Vereador tenha sido essa sugestão tão bem acolhida pelo conjunto dos Srs. e Sr.ªs Vereadoras. Por isso, nós, Vereadores da Cidade, nos sentimos muito orgulhosos e muito honrados em poder te prestar esta homenagem, um tanto simbólica, mas que para nós tem, sem dúvida nenhuma, um alto significado. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

(É feita a entrega do Prêmio Literário Érico Veríssimo ao Sr. Armindo Trevisan, pelo Sr. Presidente Ver. João Motta.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Motta): O Sr. Armindo Trevisan está com a palavra.

 

O SR. ARMINDO TREVISAN: Sr. Presidente e Srs. Vereadores (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Sinto-me realmente feliz por estar recebendo o Prêmio Literário Erico Verissimo do ano 2000. Primeiramente, por ser esse Prêmio uma homenagem a um grande escritor, um dos maiores do Brasil e da América Latina, que foi também um dos homens mais íntegros que conheci.

Para mim, Érico encarna uma espécie de ideal humano e social do escritor. Foi capaz de ser genial e de manter, durante toda a vida, uma postura solidamente democrática, uma simplicidade que fazia o encanto dos seus amigos, entre os quais, tive a honra e a felicidade de ser incluído.

Tenho outra razão ainda para estar feliz, por ser este Prêmio atribuído pela Câmara de Vereadores de Porto Alegre, minha Cidade de adoção.

Rendo homenagem ao Dr. Raul Pont e aos Srs. Vereadores por seus devotamentos à causa pública, principalmente nesse momento, em que Porto Alegre se tornou uma referência nacional e internacional em cidadania e qualidade de vida.

Agradeço-lhes, Srs. Vereadores, os elogios à minha pessoa e à minha obra. Os elogios, como dizia alguém, engrandecem mais a quem os faz do que a quem os recebe, pela razão de que os primeiros revelam grandeza de alma, generosidade e até elegância, enquanto que, nem sempre, merecemos os elogios que nos dão. Agradeço-lhes de modo especial a distinção que me concederam, considerando-a um estímulo para todos os escritores gaúchos e, para mim, particularmente, que estou persuadido de que a poesia e a literatura, tomadas como um todo, continuam importantes para a humanidade. A própria Bíblia, que é o maior monumento literário do mundo ocidental, faz um elogio ao escritor no Salmo 45: “O meu coração inspira-me belas palavras; vou recitar ao Rei o meu poema!. Gostaria de o fazer com a arte de um bom escritor”. Sim, eu também gostaria de fazer com a arte de um bom escritor o meu agradecimento a vocês! Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Motta): Senhores e senhoras, prezados componentes, encerrando-se a nossa presente Sessão, convidamos a todos para que, em pé, ouçamos o Hino Rio-Grandense.

 

(Executa-se o Hino Rio-Grandense.)

 

(Encerra-se a Sessão às 19h19min.)

 

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